Oferta menor, preço maior: Como as queimadas influenciam o valor do leite?

Queimadas reduzem a oferta de pastagens e afetam a produção leiteira, elevando os preços.

As queimadas são um fenômeno que impacta de forma significativa diversos setores econômicos, e a produção de leite é uma das áreas afetadas. Conforme estudo do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), ligada à Universidade de São Paulo, a redução da oferta de leite está diretamente relacionada a esses incêndios, contribuindo para o aumento do preço pago ao produtor.

Em agosto, a “Média Brasil” atingiu R$ 2,7607 por litro, 1,4% acima do valor verificado no mês anterior e 17,7% maior do que em agosto de 2023, considerando valores ajustados pela inflação. Este cenário destaca a complexidade das variáveis que determinam o custo do leite, sendo as queimadas um fator crucial.

Impacto das queimadas na cadeia produtiva do leite

As queimadas são responsáveis por uma série de desafios na produção de leite, começando pela redução da disponibilidade de forragem para os animais. Isso eleva os custos com alimentação e, consequentemente, a produção de leite se torna mais cara.

Além do sobrecusto, a condição dos terrenos após uma queimada potencialmente prejudica o bem-estar animal, limitando a capacidade produtiva das vacas. Esses fatores criam uma cadeia de efeitos que afeta tanto produtores quanto consumidores. Quando os custos sobem e a oferta diminui, o preço ao consumidor inevitavelmente aumenta, refletindo-se em toda a cadeia de valor do leite.

A situação é agravada pela conjuntura climática e econômica dos últimos meses. Enchentes e calor extremo têm sido constantes desafios, dificultando a estabilização da produção. A combinação de fatores climáticos adversos e queimadas levou a um cenário de preços elevados e margens apertadas para os produtores.

Este ciclo vicioso continua, pois a recuperação após as queimadas é lenta e exige investimentos consideráveis. Os produtores precisam de tempo e recursos para restabelecer suas operações, o que demanda paciência dos consumidores, que sentem o impacto nos preços no momento da compra. Assim, a resiliência da cadeia produtiva de leite é testada continuamente pelos desafios impostos pelas queimadas.

Além dos desafios operacionais, acompanha-se uma mudança na dinâmica de importação. A redução das importações de lácteos em agosto trouxe mais pressão sobre a oferta nacional, impactando ainda mais os preços. Este cenário tornou-se um gatilho para o agravamento da situação enfrentada pelos produtores, que já lidavam com a escassez de insumos e as dificuldades climáticas.

As queimadas, portanto, criam um desequilíbrio que se estende além das fronteiras das fazendas, afetando o mercado global pela interdependência da oferta e demanda. A pressão adicional sobre a produção doméstica leva a uma necessidade urgente de soluções sustentáveis para mitigar os impactos das queimadas e estabilizar os preços do leite.

Desafios do clima e da economia para os produtores

Além das queimadas, outros fenômenos climáticos e econômicos têm contribuído para a instabilidade no preço do leite. Os produtores se depararam com enchentes significativas no Sul do Brasil em maio, o que impactou diretamente a produção de leite em regiões-chave durante os meses subsequentes.

Esse excesso de chuvas causou um atraso na oferta de leite, afetando a dinâmica de preços e contribuindo para a já crescente tensão no setor. O calor intenso durante a entressafra em agosto também impactou a capacidade produtiva, comprometendo ainda mais a oferta.

Outro ponto crítico é a queda nas importações de leite, que observou-se em números consideráveis. Segundo dados do Cepea, houve um decréscimo de 25,2% nas importações de lácteos em agosto. Essa diminuição nas importações elevou a pressão sobre a produção local para suprir a demanda, agravando a escassez causada por condições climáticas adversas e queimadas.

Ao mesmo tempo, a demanda por leite no mercado interno manteve-se firme, pressionando os preços para cima e complicando ainda mais o panorama para os produtores nacionais, que tentam acompanhar a demanda sem comprometer a sustentabilidade econômica de suas operações.

E ainda, a oferta aquém do esperado também resultou em estoques reduzidos nos laticínios. Em setembro, esses estoques atingiram níveis abaixo do normal, como relatou a pesquisadora Natália Grigol do Cepea. A redução dos estoques adiciona outro elemento de pressão sobre o preço do leite, gerando incertezas sobre a capacidade de atender plenamente a demanda do consumidor.

Perspectivas futuras e soluções potenciais

Olhando para o futuro, existem algumas possibilidades de alívio para a cadeia produtiva do leite. Uma delas é a implementação de práticas agrícolas mais sustentáveis que possam auxiliar na mitigação dos impactos das queimadas e condições climáticas adversas.

Investir em tecnologias que fortaleçam a resiliência dos sistemas agropecuários e melhorem a eficiência na produção poderia ajudar a suavizar as flutuações de preço causadas por crises climáticas. Outro caminho seria fortalecer as políticas públicas para proteção ambiental e combate a incêndios, minimizando as ocorrências de queimadas e, consequentemente, seus impactos devastadores.

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